Dizer sim à vida, apesar de tudo.
- Malone Rodrigues
- 25 de mai.
- 2 min de leitura

Era minha primeira semana no curso de Filosofia da PUCRS. Na turma, um misto de idades e trajetórias: havia seminaristas e religiosos, advogados e outros tantos apaixonados por filosofia. Confesso que eu sabia muito pouco. Minha experiência no colégio havia sido aquela de gravar o conteúdo para passar nas provas. Tanto que já não lembrava quase nada.
Foi então, numa aula sobre o pensamento de Viktor Frankl com o professor Luciano Marques de Jesus, que a filosofia se aproximou de mim a galope. Ao falar com tanta vivacidade daquele jovem austríaco — que já havia sido homenageado com o título de honoris causa pela PUCRS —, senti-me como um daqueles prisioneiros da metáfora da caverna de Platão. Eu agora via a luz.
Frankl foi o primeiro. Depois vieram a mitologia e, por fim, a corrente humanista. O questionamento socrático e suas ramificações. O que é o tempo? O que é o conhecimento? Mas foi a pergunta daquela primeira aula aberta sobre Viktor Frankl que me acompanhou durante todo o curso de filosofia: qual o sentido da vida?
Desde muito cedo, a vida foi intensa comigo. De problemas de saúde a desafios pelo caminho. Aprendi que a vida é frágil e efêmera. Talvez essa pergunta sobre o sentido já habitasse dentro de mim, mesmo que eu ainda não soubesse formulá-la. Quando fui apresentada à hermenêutica de Frankl, pude finalmente encará-la de frente. E confesso: ao longo de toda a minha formação, vi outros pensadores e filósofos se debruçarem sobre essa mesma questão — a existência e o seu sentido.
Assisti muitas vezes àquela aula aberta do professor Luciano. Em todas, algo novo se apresentava. Na última — que também foi meu último compromisso do dia —, a pergunta veio como um trem em alta velocidade. De manhã, eu havia atendido alguns pacientes; ao meio-dia, fiz um exame e encaixei minha sessão de terapia; depois de uma tarde cheia de trabalho, ainda tinha aula do mestrado. Lá estava eu, novamente, escutando sobre o pensamento de Frankl.
Dessa vez, o desconforto era com o tempo. Já havia flertado com esse tema na Filosofia: o que é o tempo e como nos relacionamos com ele? Relendo os textos de Frankl, me deparei novamente com uma de suas frases mais marcantes:
“Dizer sim à vida, apesar de tudo.” (Frankl, 1991, p. 265)
Na dinâmica da vida, sempre haverá sofrimento. É a realidade mais dura. Vivemos em um mundo de altos e baixos. Um mundo em que o “estado da felicidade” virou produto, e tentam nos vender a ideia de que só seremos plenos quando formos felizes do início ao fim do dia. Mas a vida é uma montanha-russa. Dias e noites virão. Tempestades podem ser verdadeiros desastres.
Lembro de uma árvore nos fundos da minha casa. Após um raio tê-la atingido, parte dela pegou fogo. A outra metade precisou ser cortada pelo meu pai, pois poderia cair. Achei que era o fim. Mas, depois de um tempo, nasceu um broto.
Dizer sim à vida, apesar de tudo. Essa é a nossa natureza. Nem sempre será fácil. Às vezes, vamos precisar de ajuda. Mas depois da tempestade, sempre vem a calmaria. Tudo vale a pena, quando a jornada tem um sentido — e um propósito.
Viktor E. Frankl. A psicoterapia na prática. São Paulo: Papirus, 1991
コメント