Metade do ano, inteiro em mim: entre calendários, ikigai e escolhas conscientes
- Malone Rodrigues
- 7 de jun.
- 2 min de leitura

Tirei a folhinha do calendário. Sai maio, entra junho. E, logo na primeira página do novo mês, uma frase me atravessou: “Você chegou à metade do ano de 2025. Como está a sua vida até aqui?”Não sei exatamente o que os designers estavam pensando quando criaram essa mensagem, mas confesso: eu não fiquei inerte.
Verbalizar que estamos na metade do ano me deu um leve susto. Já estava imerso nos planejamentos do semestre — aulas, pacientes, projetos — mas aquele lembrete não falava da minha agenda. Falava de mim. Da vida.
Tenho o hábito de revisar meu ikigai, aquele conceito japonês que pode ser traduzido como razão de viver. Estou sempre atento a ele. Cuido dos meus sonhos e dos meus planos com docilidade. Mas é nas férias de julho que costumo revisitá-lo com mais profundidade. É curioso como pequenas ações — uma frase numa folha de calendário, por exemplo — podem desencadear grandes reflexões.
Na última masterclass da Inspirare, o professor Luciano falou sobre o sentido da vida e nos presenteou com a música Epitáfio, dos Titãs. Me chamou muito atenção o trecho:“Devia ter amado mais… Ter chorado mais… Ter visto o sol nascer.Devia ter arriscado mais e até errado mais. Ter feito o que eu queria fazer.”
Vivemos como se o tempo fosse infinito — e talvez precisemos acreditar nisso para continuar. Mas esse automatismo nos anestesia. Às vezes, permanecemos em situações que já não nos servem mais. O tempo é escasso. E, sim, finito.
Lembro de um velório em que o celebrante contou a parábola bíblica dos talentos: dois personagens recebem moedas. Um as enterra por medo de perdê-las. O outro investe e as multiplica. O primeiro, embora tenha devolvido exatamente o que recebeu, foi repreendido. O segundo, que arriscou e fez frutificar, foi elogiado.Naquele dia, o sacerdote nos disse que, apesar da dor da perda, havia também um motivo de gratidão: aquela pessoa havia multiplicado seus talentos. Havia vivido de verdade.
Hoje, ao me aproximar da revisão do meu ikigai, me pergunto: estou colocando os meus talentos na rua?Claro, não falo de irresponsabilidade. Aprendi isso esta semana num curso em que usaram o exemplo do “padre do balão” — que se lançou ao vento sem saber sequer como funcionava um GPS.
Quero viver com propósito. Como o navegador brasileiro Amyr Klink, que traça suas rotas com precisão. Ele sabe aonde quer chegar, mas cuida de cada etapa da travessia. Quanto mais nos conhecemos, mais clareza temos sobre nossas escolhas.
Por isso, deixo aqui um convite: olhe para a sua vida com intenção.Menos Zeca Pagodinho (“Deixa a vida me levar…”) e mais ikigai.Descubra o que te move. Recalcule suas rotas. Faça valer a travessia.